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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Formação de identidade e a mídia

Ao longo da vida o indivíduo constrói sua identidade, e para isso, busca referências, seja ela familiar ou um personagem televisivo, por exemplo. No entanto, muitas vezes a pessoa próxima, no caso à família (pai, mãe, irmão) não preenchem as expectativas do jovem em formação e este busca outros parâmetros para o seu desenvolvimento. Diante disso, abriu-se espaço para inserção da mídia na vida e na construção do comportamento infantil, pois além do seu papel informativo, os meios de comunicação possuem poderes persuasivos, fazendo com que a criança, construa referências com base nos super-heróis dos jogos eletrônicos, esses cada dia mais violentos, desenhos animados, ditos infantis, porém de igual forma aos videogames que celebram combates.



Tal influência pode ser analisada também na escola, onde as brincadeiras infantis estão relacionadas de alguma forma com os heróis da tevê ou dos videogames. Essas questões foram observardas por Celso Athayde e MV Bill em seu livro Falcão Meninos do Tráfico, pois as crianças que vivem em locais onde a violência tem presença constante acabam traduzindo muitas vezes o que vêem no cotidiano das favelas nas brincadeiras infantis. As pipas e as bolas de gudes são substituídas por armas de brinquedo e papéis como os de polícia e traficante são encenados por menores que convivem com essa realidade.
(...) Chamei o Guinha e perguntei onde e como eles estavam brincando. Ele me disse que eles brincavam de boca de fumo e que a mãe de nenhum deles sabia da brincadeira. Se as mães não podiam saber é porque não concordariam que os filhos brincassem disso[1]

Em seu livro “Sociedade, mídia e violência”, Muniz Sodré cita um relatório da Associação Norte – Americana de Psicologia (U.S. News and Word Report, de 12.7.93) em que afirma que uma criança, diante da tevê por período mínimo de três horas diárias, terá assistido cerca de 8.000 assassinatos e 100.000 atos violentos. Quando adulto, o entusiasta dos videogames terá eliminado, sem pesar, cerca de 40.000 rivais. Com base nessa estatística, fica clara a influência que a mídia pode exercer no comportamento do indivíduo. Como exemplo disso, o livro mencionado traz também uma situação que ocorreu no dia 4 de novembro de 1999. Um estudante de medicina, de 24 anos de idade, sem nenhuma razão evidente, descarrega quarenta tiros de metralhadora contra uma platéia que assistia num cinema ao filme O Clube da Luta, em São Paulo. Houve três mortes e outras pessoas ficaram feridas. Já capturado, o jovem confessa a polícia que organizou o ato durante um mês e disse ainda que planejou invadir o cinema com uma granada, mas como lhe foi pedido cento e cinqüenta dólares, por ela achou que não valia, além do que também para ele que a metralhadora causaria maior impacto na mídia. Em alguns casos a necessidade de auto-afirmação perante a sociedade leva o indivíduo a cometer atos como esse, podendo provocar a morte de várias pessoas, o que acabou acontecendo.
A responsabilidade dos veículos de comunicação está atrelada a isso, partindo do pressuposto de que não há uma filtragem do que é exibido por eles. Ao invés de programas ou filmes educativos tende-se a mostrar com maior afinco os eventos que incentivam a violência, a degradação humana. É comum visualizamos isso no cinema americano, onde grandes produtoras, no ensejo de obter resultados positivos, acabam por esquecer princípios éticos básicos na veiculação de produtos. Em outro contexto está a situação enfrentada por menores que vivem nas periferias das grandes metrópoles onde o convívio familiar é problemático, já que alguns na maioria dos casos, como é relatada nos livros “Cabeça de Porco e Falcão Meninos do Tráfico”, a figura paterna é ausente, fator que em determinadas circunstâncias está atrelado a violência, já que alguns homens destes locais acabam sendo mortos por envolvimento com atividades criminosas, o tráfico de drogas, por exemplo. E a mãe, em muito desses casos, devido à necessidade de trabalhar para o sustento da família fica maior tempo fora do lar desse modo as crianças residentes das “favelas” ficam vulneráveis ao estarem em contato com a criminalidade. Assim, elas buscam nos “donos dos morros” alguma identificação, pois esses transmitem uma idéia de poder, de “heróis” e até mesmo de respeito dos moradores das comunidades. Ou seja, tornam-se ídolos, pois eles também aparecem na televisão e capas de jornal ainda que seja nas páginas policiais.
“(...) Quem são teus amigos?
Meu fiel tá ligado? Meus colega. (...)”
“(...) Quem é seu maior ídolo hoje?
Quem mais gosto?Do meu fiel. Do meu fiel, pô (...)”[2]
[1] Depoimento de um menor a MV Bill pág. 48.
[2] Depoimento de menor concedido a Celso Athayde.

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